A palavra, o pixo, a marca e o risco
Qualquer fala que tentasse se aproximar de uma relação ou referência à pixação teria que começar com transgressão. Começo já vendo que a palavra pixação para o computador está escrita errada e ele me marca de vermelho, corrigindo o x pelo ch. Eu insisto! Se me marca, e começar frase em português com pronome também é transgressão à gramática, eu deixo lá, porque não me interessa as regras gramaticais. Agradeço! Graças a deus, ou à vida eu consigo sobreviver sem entendê-las e, mesmo com a formação acadêmica, dita:”superior”( essa realidade insuperior da universidade!) me digno a não dizer mais nada ao equipamento. Seguimos transgredindo...
Fiquei mesmo imaginando durante as falas, diga-se de passagem, todas impressionantes(!!!), no evento “Juventude e Pixação”, se os pixadores estariam mesmo interessados ou até mesmo quisessem mesmo que aquilo ocorresse. Ao mesmo tempo, me regozijava com a fala de Lora, estudante, mãe e pixadora, num recortar de rimas que a identidade dá. Fiquei pensando se uma fala acerca da emoção e do calor que me subia durante cada gesto, cada olhar e cada palavra. Pensei na possibilidade de pegar o microfone e falar, pensei também no tanto que falo e por fim em escrever. Talvez fazer uma poesia, escrever uma crônica, mas qualquer referência ao dito não caberia nem mesmo na liberdade que a arte pode dar e, seria eu uma artista da palavra?
Ainda assim insisto em dizer sobre a paixão do pixador ou pixadora ao encontrar a possibilidade de sua marca ficar ali, “seu risco que corre e o correr do risco”* passando para a parede aquilo de que coração e cabeça andam cheios! E transborda! Algo que a palavra, na formalidade gramatical não pode dar vazão! E é preciso inventar, artisticamente, ou toscamente, porque sinceramente eu acho que eles não estão nem aí! Nem com isso preocupados, em classificar, se é arte ou não FODA-SE, ou melhor FODAS! Acho que se eles tem alguma preocupação talvez seja a do rolé, rolê(?) dar certo, e certo é não rodar, não cair na mão de policial que só entende o pixo através da violência ao corpo e não através da voz, um medo talvez atroz, mas talvez que motive, de não ser morto por um dono de muro do lado de fora(PQP! Eles querem mandar no lado de fora! Por isso já escolhi meu lado, o de fora!). É fácil, ser da lei e bater em menino na rua, e pixar a cara dele, e fazer medo e ameaçar! Difícil é criar um código só seu, é subir em parede que ninguém tem coragem, é viver uma vida de cão, ou não, mas ter coragem de botar no muro não nos outros o que o corpo tá cheio! E vaza!
Assim, qualquer palavra que tente explicar um traço, um risco daria vertente para um arriscado contorno que a gente não conhece, mas que fascina e por isso a gente também se torna pixador ou pixadora e é recebido com uma doçura nos espaços deles, e é aceito com as limitações do corpo que não sobe em paredes, mas se arrisca nos banheiros da universidade, em prefeituras, ou etc para não dar aos perseguidores tantas pistas, e vai tentando pixar um lero-lero ou começando a criar um código noutra língua, numa língua não mais falada, ou vendo que até analfabeto pode pixar e inscrever na real sua ideia! Aprende que pichador é simples e complexo, que teve um que matava aula pra ler nada menos que Zaratustra! Que é novinho, quase menino e é velho, talvez na idade mas nunca na disposição! Que pichadores não tem preconceito. É muro limpo, sujo, a maioria os abandonados! Mas que se esvai traçando na cidade um sinal, uma senha. Pode-se achá-los, um dia sim, se for sorrateiro, mas não pra puni-los mais que a realidade já o faz...
Sigo acreditando na palavra escrita ou falada, no pixo que insiste em sobreviver, mesmo matando ora pela fatalidade ora pela crueldade, na marca necessária a uma vida desmarcada e no risco que nós teremos que correr sempre, pois pra viver é preciso arriscar e olhar para o além que é o ser!
*Fala de Rogério Bettoni
Nenhum comentário:
Postar um comentário